terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A vida é Bárbara

A vida é bárbara
E a felicidade, não distante
Se esconde ao aventureiro, errante
Camufla-se em sombra e máscara

A atitude acompanha, involuntária
Em tons diretos, determinada
Alheia a convenções ou indumentária
Uma nota reta, direta, afinada

Afrodisíaca e vitalícia inteligência
Sem culpa, medo ou sinal de dor
Em saber-se melhor e mais bela

Ao destino demonstrada ingerência
Pinta a vida à minha cor
Faz do mundo em canvas, minha tela.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Homenagem e desculpas

OBIRICI Lenda de Porto Alegre - RS

O viaduto Obirici, situado no bairro Passo da Areia, zona norte de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, na confluência das avenidas Assis Brasil e Plínio Brasil Milano, foi entregue ao tráfego em 1975. Construído pelo prefeito Telmo Thompson Flores, engenheiro que administrou a capital gaúcha de 1969 a 1975, ele faz a ligação do centro com a zona norte e outros municípios da Grande Porto Alegre, integrando um dos corredores de tráfego mais importantes da cidade. A estrutura principal é constituída, nas extremidades, por dois vãos com comprimento de dezoito e vinte e dois metros, junto aos encontros posterior e anterior, respectivamente, e quatro vãos intermediários de trinta e sete metros. No local foi instalado um monumento de bronze (ilustração), modelado pelo artista plástico Mário Arjonas e projetado por Nelson Boeira Fraedrich, homenagem da cidade a uma índia chamada Obirici, personagem principal de uma das muitas lendas que enriquecem o folclore porto-alegrense. A tradição nos dá notícia de que nos tempos anteriores à colonização do Brasil, a região onde se situa a capital do Rio Grande do Sul, era habitada por dois grupos de índios pertencentes aos tapes, antiga nação indígena sul-rio-grandense, uma delas (os tapimirins) ocupando os altos do morro Santa Teresa, e a segunda (os tapiaçus) as terras que margeiam o rio Gravataí. Conta a lenda que a jovem Obirici, pertencente ao primeiro grupo, apaixonou-se por Upatã, ou Arakén, um chefe guerreiro do aldeamento vizinho, mas para sua infelicidade, o seu escolhido já estava compromissado com uma índia chamada Iurá. Apesar disso, Obirici não desistiu: procurou o homem que amava e lhe confessou a intensidade do sentimento que trazia guardado no coração. Ao saber disso Upatã ficou indeciso, sem saber com qual das duas deveria ficar, e por isso meditou durante dias, tentando descobrir como resolver o problema amoroso que tinha em mãos: aceitar uma das moças sem magoar a outra. Finalmente, ele chegou a uma conclusão: as duas disputariam a sua companhia em uma competição de arco e flecha, da qual sairia vencedora aquela que atingisse o alvo escolhido um maior número de vezes. Nervosa, e por isso mesmo mais afoita, Obiraci foi superada por Iurá, e então, sem coragem de abandonar o local aonde a rival a derrotara, ela ficou só, amargurada e triste, observando o casal que se afastava abra-çado. Abatida, a jovem se sentou ali mesmo, e em prantos ergueu as mãos para o céu, suplicando que Tupã lhe mandasse a morte no primeiro raio de sol, ou na primeira carícia da lua. Quando este finalmente concordou em atendê-la, e chegou para buscar o seu corpo, este já não estava mais lá: em seu lugar corriam as águas das lágrimas que a jovem derramara durante três dias e três noites, lágrimas que muito puras e transparentes continuaram a rolar pela areia existente no lugar. A partir desse dia os índios passaram a chamar o pequeno curso d’água de Ibicuiretã, que significa “rio de areia”, “água que corre sobre o pó”, ou ainda, “passo da areia”, e foi daí, também, que surgiu o costume adotado pelas índias da região, de buscarem consolo pela perda dos maridos nas “lágrimas de Obirici”. Hoje, essa área da cidade está toda urbanizada, a areia desapareceu, e como a chegada do “progresso” transformou em fétido valão o ribeirão cristalino que brotava na baixada da Boa Vista, atravessava o bairro e desaguava no rio Gravataí, ele foi aterrado no início da década de 1980, quando ali se iniciou a construção de um shopping center. Da lenda, resta apenas a escultura de Obirici a relembrar a pobre índia que morreu de amor.

Abrassss Iú

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Nem Todos os Poemas são para Você II

Já se foram pudor e medo
Perdidos junto à noção de tempo
Não mais recordo quando te deixei
Na aurora surda da vida
Impossível distinguir no vento
O local em que te encontrei
O amanhecer da sabedoria
Seria ainda cedo? Não sei

Derrotei hordas de mim mesmo
O exército mundano em desdém
Pisando flores, jardins do bem e do mal
Amaldiçoando tua sombra a esmo
Sentindo-se vencido antes do final
Ajoelhar ante o Diabo e dizer amém

Por toda a minha vida e destino
O caminho que sigo e escrevo
Felicidade deixada à sua mercê
Desenhada nas curvas que descrevo
Fiz dela cor, bandeira e hino
Mas entenda,
nem todos os poemas são para você.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Guitarra Campeira, de Emerson Gottardo

Guitarra eterno grito de guerra
Que pra defender essa terra
Jamais se calará

e cantando ficará
mergulhado na garganta
de um gaudério que canta
o que foi e o que será

desta terra que gerou
um nativo que ficou
sem lugar para morar
por que o tempo de passagem
destruiu toda paisagem
dos campos deste lugar

mas tu guitarra campeira
por ser eterna guerreira
ao meu lado ficará
se o homem que aqui habita
aos poucos se modifica
nosso campo, ficará

ficará... ficará...

eternamente no pampa
minha guitarra e garganta
pelo pampa ficará


que não se calem jamais
o canto dos ancestrais
que a força da nossa raça
não se entregue a desgraça
da invasão de estranhos loucos
que dominam pouco a pouco
o povo deste lugar

ficará... ficará...
eternamente no pampa
minha guitarra e garganta
pelo pampa ficará

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sohnatrave é Gol

Pipoca não tem antena
Mamão não é de vidro
E no motor de um fusca
Cabem um ponto cinco litros

Bola na trave não ganha jogo
Mas a gente sempre quer mais
A zaga é mais perdida
Que fiadasputa em dia dos pais

Sohnatrave, sohnatrave
Vamos celebrar o ócio
Sohnatrave, Sohnatrave
O empate é um bom negócio

A lua não é quadrada
Mas é nela que a gente mira
Futebol só tem valor
Pra justificar a bira

Banana não tem caroço
E se tem a gente chuta
Do peito pra baixo é perna
Mas nego voa é no Pescoço

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sorrisos

A vida é bela, e é fato
E por isso
De sorrisos
Visto a face
Por saber-me vivo
A olhos vistos
Altivo
Não que cantasse
Ou quisesse
Não soubesse
Dos amigos idos
Amores...esquece

Sobre a Morte

Por que de preto vestes a morte
Se tão brilhante te ofusca?
Por que não sua cor de sorte?
Pois o que é a vida se não sua busca?

A morte em nada é sofrida
Não mais do que o próprio pensar
Viver a vida é tocar a ferida
É um lento e inevitável suicidar

Do guerreiro a busca incessante
Ápice viva em contraponto
Eternidade no horizonte pungente

Dentre todos, destino inquietante
Contínuo sofrimento absorto
Morrer antes da morte iminente

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Teu Poema

Alegria, senhorita, alegria
Me ilumina tua beleza
És toda minha, toda amor
Despertas minha libido,
E meu pudor
És razão do meu levantar
É meu tom de voz a cantar
É tua minha alma ao beijar
É teu meu feio sorriso espontâneo
Meu furor, meu calor momentâneo
Se junto a ti ando é porque te quero
Se parado, estático estou, é porque te espero
Vives minha vida e eu a tua
És do meu dia o sol
De minha noite a lua
E se hoje neste poema te desenho
É porque nele está tudo o que tenho

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Tempero da Vida

Cria a mulher a vida
e dá-te
E ainda que possível fosse distingui-las
Em vão o seria
Eterna tentativa
Sem tempero algum, sal, açúcar
Pimenta ou canela
Seria somente
O viver e sua mazela
Contando faróis ao sol
Sombrinhas solitárias a voar
Um lento passeio vadio
Dali em seu mundo surreal
Um estado pseudo febril
Loucura bela e viral
A infância a sopros varrida
Planetas brincando ao vento
Zombando da poeira do tempo
Ao toque de dedos funciona o cosmo
Uma pitada de paixão dá-se a partida
Toda forma de amor é válida
Ainda que seja a esmo
Ou uma eterna despedida

domingo, 16 de novembro de 2008

Azul Claro

Vem esta pagar a promessa
De fazer-te solene e feliz
Por uma alma triste, em trevas imersa
Na ponta dos dedos deste poeta aprendiz

Vens em tua forma iluminada
Em azul desenhas meu caminho
Como tinha de ser surgiste, inusitada
E ressuscitaste meu amor, meu carinho

Na folha a maciez do corpo
No lápis a mão a imitá-la
Para o sono velar, meu sopro
Para acordar-te, meu lábio a beijá-la

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Grandes Esperanças

A vida a arte imita
Sem cabelo ou maquiagem
Sem dó da personagem
Talvez a mesma até permita
Singela, a escolha da atriz
E, um dia, quem sabe até um final feliz
Sussurrando Beatriz
Quiçá fazer morada no cenário dela
Grandes esperanças esquecidas
Passar a vida à espera de um beijo de Estela

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Contrariando

Contrariando Gonçalves Dias, que entendia tudo de poesia, mas pelo visto nada de futebol... A TERRA NÃO TEM MAIS PALMEIRAS!!!!

Tcheco manda um abraço, mas é sem querer.

Caprichosa

Peço um sorriso
De pronto olhos me respondem
Um coração quer atender meu pedido
Dois lábios fecharem-se escolhem

Em meus braços pergunto
Se sentimentos tanto me procuram
Por que lábios, caprichosos
A meu pedido se recusam?
... e eles sorriem

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Destinos

Dois destinos tem a vida
Deliciosa insanidade
Fazer de um, meta
Ser feliz
Ou ser poeta

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

After All

And after all we say
Couldn’t life be any happier
Than some beers among friends
By the end of the day

And after all I see
Through the eyes covering fog
Life isn’t life without her
When she’s somewhere else but not beside me

And after she’s gone
Lights are off, darkness is on
Sailing where the wind blows
Touching burning ice I realize
After that, living is done

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Deixa Chover

Com a grata participação de Cybeli Moraes:

DEIXA CHOVER
Deixe chover, deixe a felicidade gotejar
O máximo que pode acontecer
É a gente nela se molhar

Um sorriso nunca fora motivo
Para o temor a tal beleza
Se o som de minha risada lhe agride
Ou lhe ilumina o caminho
Só a sua há de lhe dar certeza

Deixe chover, deixe o espaço transpirar
Aquilo que talvez falte acontecer
É o tempo num compasso se acertar

Um abraço será sempre movido
Para espantar a tristeza
Porque o som da tua risada me inibe
Ou me anoitece aos domingos
Gerando paz na incerteza

Deixe chover, deixe o temporal começar
O mínimo que pode acontecer
É a gente, vez por outra, se afogar

Mas molhe. Porque vale a pena transbordar.
Depois seque. Para novamente em chuva retornar.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Em Dois

Ao acordar ela é mais bela
Tem o corpo inteiro sorrindo
Pois ela é ela, e só, e é tudo
Tudo de bom que há em mim
É a minha vida se dividindo

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Espelho

É de prata meu espelho
Meu rosto refletido sob a lua
Atira-me à face da alma a fraqueza
Atiro-me aos pés ante a beleza sua

Sob a parreira sou meu passado em raiz
Frente ao vinho vê-se a verdade escondida
Satisfação saber da uva a matiz
Deleite aos lábios provar a fruta embebida

Abre-se a flor aos avessos olhares
Sábia madrugada aquela que o belo salva
Fruto que a estação a sóis viu surgir maduro

Tormenta vislumbrada aos ouvidos murmuro
Sob toques se perde a casca, a pele mostra-se alva
Clama o peito afogar-se em meus mares

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Amostra de humildade

Numa amostra impressionante de humildade, este blog abre espaço para um poeta novato mostrar seu trabalho. Um "rapaz" chamado Gonçalves Dias, ehehe.
Então com vocês, ei-lo:

Olhos Verdes

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São uns olhos verdes, verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como se lê num espelho,
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós, ó meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esp'rança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Incerta

Bêbados pensamentos soltos no ar
Palavras enchem a boca, palavrões
Nada que enobreça o espírito ao falar
Cenas perdidas, devaneios de visões

Olhos de cor sempre indefinida
Há tempos têm-se visto cinza
Distantes na paisagem infinda
Sem brilho de brancas rosas lindas

Sorrisos raramente naturais
Como calor em restos de fogueira
Sem o fulgor de chamas fatais
A mente a queimar a alma enferma

Um ano de puro inverno, sem estações
Um presente que vive no futuro
Um passado descrito em canções
Um anjo abandonado no escuro

No escuro quarto da incerteza
No castelo perdido de uma lenda vazia
Nenhum sentimento se faz com clareza
Nenhum amor cabe em apenas uma poesia

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Inverno

Cabelos, louros e longos cabelos
A rolar por sobre as costas
Soltos aos sabores do vento
E verdes olhos (ou seriam azuis?)
Fazem mar
Seria alegria?
Tristeza cessou seu soprar?
O minuano o rosto castiga
As mãos colore
Tal qual faz do dia, escuro
No peito o passado vira folclore
Espessa e pesada roupa
Ao amor fez-se barricada
Igual se esvai o dia incolor
Mostram-se os olhos à frente
Sem fogo, paixão, dor
Ou qualquer coisa que esquente
Adormece o sentimento
Encontra em amigos único presente
Sob o peito aprisionado
Cavalo selvagem, indomado
Xucro volta a correr
Sabe ele voltará a amar
Sabe ele voltará a doer

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O que Deixo de Esconder

Há tantas coisas que te quero dizer
Que a solidão dorme ao relento
Que a alegria é meu rebento
Que a felicidade é dúbia
E não te basta disso saber

Há coisas, eu sei, nunca te direi
Que a vida é simples ao extremo
Ao que saiba assim, a morte, há tempo
E, sabe ela, por tal, ela não temo
Pois sabemos ambos, sou eu quem vida doa
Àquilo que amo

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Aleatória

Não interessa quão grande o esforço
Vive o passado a rondar moribundo
Reza a oração, a canção
Pelo corpo a vagar
Em espírito, cabeça e coração
Que já não fala o que sabe
E já não sabe o que fala
E gira, gira, gira
Em minhas portas e janelas espia
Nada há de ser
Logo o ciclo se completa
Há de se abrir mão do cinza
Contemplar-se novamente
O azul, o amarelo e o verde
Vem a morna brisa polir
O brilho despertar
O encanto desprender
Em bases primitivas
Sob raízes da alma escondidas
De lágrimas a ferro protegidas
Vem provar da madeira a força
Do machado as investidas
Mostrar ao coração
Em você mesmo quem manda
Mas e o presente... por onde anda?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Pálpebras do Tempo

Tenho os olhos cheios de memória
Da longa jornada que forjei
Das belas paisagens que vi
Das lisas faces que beijei

Tenho os olhos cansados
De falsidades com que sofri
De verdades que me magoaram
De moças por quem vivi
E morri

Tenho os lábios marcados
Dos momentos que me foram negados
Das palavras para as quais os fechei
Dos beijos que me foram roubados

Tenho os olhos leves
Da consciência que não me pesa
Dos sussurros que os acordam
Dos teus, que se abrem a revelar beleza

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pena

Meu lápis te desenha,
Te molda em palavras
Te afaga, te ama, te mima
Por ti faz tudo o que pode
Só o que não sabe fazer
É um poema sem rima

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ressábia

Corria sem medo pelo mundo
Um sorriso a lhe guiar
Um espelho perfeito da alma
Cravejado em esmeraldas a lhe encantar

Sonhos sem fronteiras cabíveis
Uma franca forma de jogar
Veneno contido em quaisquer palavras
Capaz da realidade fantasiar

Foi-se o guia, a chaga sangrou
Um anjo ao chão arremessado
Sem asas ou desejo em voar

Incrédulo à covardia que o atacou
Agora no escuro caminha amedrontado
E raramente põe-se a cantar

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Sim

Meu amor não cabe em mim
Vai muito além de pensamento
Se amar é minha sina, ao fim
Hei de amar ainda que
Apenas por um momento
Somente o tempo de um sim

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Quase Metade

Em parte tudo é verdade
O amor, a dor, o fogo que aquece mas não arde
A vida na Terra e afora
As passadas, reencarnadas
A morte após a morte
Fique comigo ou vá-se embora
Meias mentiras deslavadas, transparentes
Meia sola, meia boca
Alicerces de madeira, sob prédios pendentes
Dinheiro não é tudo
Felicidade não traz
Há de se ter beleza
Certeza
De que falta não se faz

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Rei dos Animais

Eu, jovem que sou
Não tenho grandes paixões avassaladoras
Guardo-as para quando ficar velho
Para poder dizer aos curiosos
Quando questionado
Na chegada ao paraíso
Que morri foi de amor...
... e matar todos de inveja!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ilex Paraguaiensis

Segue afinado o instinto
A guiar-se pelo faro
Deixando-se envolver por aromas diversos
De flores, cores
De frutas e seus sabores
Cantigas e versos
Retos, corretos
Em rodas de mate
Rodando de mão em mão
Entre pais, filhos e netos

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Silêncio

O silêncio é ensurdecedor
É Maracanã de 50
É a morte de Senna
É um grito ardido, antigo
Uma das crias da vida
Traz a história nas notas
Em turvas estradas tortas
O silêncio é plural, disforme
Substitui quaisquer palavras
É visto, lido
Em olhos tristes, lágrimas faladas
É a questão maior do ser
É o contra-ponto do viver
Contenta-se com o quase nada
Porque assim é o silêncio
E assim o é você

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Kika

Nunca pedi licença
Pra vida ou qualquer vivente
E há quem diga que não sente
A língua travando no dente
O tamanho de minha presença

Não insista, me veja, sou moda
Tendências me seguem por rotina
O sucesso há tempos me procura
Sabe ele ser minha sina
Sabe ele sou foda

Seu tempo eu conheço
Não peço desculpas pela demora
Do crescer já sei o custo
Já pago seu preço
Posso ser eu mesma a qualquer hora

Meu jeito, sem saber me entrega em cheio
Realmente pinto e bordo às torrentes
Não pareço familiar
Já me viste por sobre as gentes
Era eu a capa e recheio

Não me espere ver em pranto
Meu sorriso exige merecimento
Por caráter, maciez ou momento
E saiba antes do julgamento
Aos que dizem não ser social
Apenas nego o direito ao encanto

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

À Nuca

Coloridas são as asas
Da borboleta que a veste
De livre espírito, verde
Azul , a alma e o olho
Que de desejo a despe

A grande força às mãos
O homem forte aos pés
A grande força, a paixão
A forte menina, virgem mulher
Delicado furacão

Em sombras e luz, negro em pêlo
Branco em alma, vida e patas
Língua e lábio beijando matizes
Se a beleza se esconde sob o cabelo
A sabedoria se disfarça no peito
Sob a forma de cicatrizes

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre Mim

E eu que nunca soube
Nem ao menos quem eu era
Ou tampouco quem seria
Quem gostaria de ser
Se Chico Buarque de Holanda
Ou Carlos Nader

De você sei mais do que imagina
Sei mais do que mim mesmo
Mais do que deveria saber
E, ainda que fosse a esmo
Seria a vida mais pobre
Se a mesma, de porre
Me pregasse o truque
De nunca lhe conhecer

Em poucas coisas faço credo
Embora de nada duvide
Creio que não sei quem seja
Ao que disso você já saiba
Grato sou por ser eu, e eu só
E, assim, não ser você
E, por isso, com você poder estar
Como o pescador, que não sabe porque pesca
Apenas agradece por sê-lo
Para poder acordar todo dia
Nos braços do mar

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Soneto Direito

Com as mãos moldo teus lábios
Para poder desenhá-los no ar
Teu rosto trago escondido sob os olhos
Fecho-os para então te beijar

Duas faces tem a moça ao luar
E penas um sorriso que as una
A que me olha se põe à pensar
A que me beija se entrega à fortuna

Dos riscos que corro exijo, sei eu
Da felicidade sabem melhor a vida e o tempo
Da tristeza só digo o que sabe meu peito

A alegria, insisto, explicito em todo feito
Denuncia teimoso o rosto meu contento
Dentre todos os riscos, maior seria ser seu

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sorrir de Olhos

E de todos os que a amaram
O mais simples e claro veio ser
O que mais complexo há de se ver
As costas deu à fantasia
Ao mundo de imaginação
Camuflou ilusão em realidade
Apenas 5 minutos diz a canção
Que a teimosia tratou de tornar verdade

E de todos que a traíram
O fio de navalha em mão carinhosa
Foi o que mais fundo a tocou
No mundo de trevas da mentira
Vislumbrou ela o jardim que quis
Ao brilhar do sol podres flores brotaram
Por castigo tal perfume ela provou

E de todos que a sorriram
Aquele para o qual ela guardou
O som de sua risada
Fora àquele que não sabia sorrir

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cê Sabe

Tenho mãos acariciadas por cabelos
Que deslizam a moldar um rosto
E uma boca que ávida me olha
Mais do que os olhos poderiam
Faz-me escravo destes lábios, deste gosto

A paixão reapresentada à vida num sorriso
Talvez teimosa vença, finalmente aprenda
Jamais hei de esquecer
Do assalto seco, tinto, do beijo
Da ironia transformar angústia em prenda

Sabe a madrugada aguardar ansiosa
O ensolarado dia que há por vir
E sabe ele seu tempo, seu lugar
Sua alva maciez em pele
Quase possível tocar sua luz
Fazer dela meu caminho
Fazer dela meu andar

Subo às torres do castelo
Imploro à princesa que me salve
Pois há muito já perdi defesas
Impávida me atire ao banho
Me banhe em mãos e sutilezas

Canto o prazer em tons maiores
No jazz suave, omitido em bruma
Nas palavras entre dentes sufocadas
Largadas ao vento, leves feito plumas
Aliviando enfim almas antes acossadas

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O I e o U

Escondo-me em vogais
A ti pareço dissonante
Não que não saiba ou queira
Gentileza entre lábios se esgueira
Faço reto meu caminho inconstante

Fruta silvestre da savana
Que a madrugada fez desnuda
Fruta madura, viajada no mundo
De gosto, riso e olhar profundo
Áurea clara meu desejo profana

Impulsiva a vontade sei, não será controlada
A hora é agora e o momento já passou
De que tratava afinal a frase mal dita

Em tortas linhas, certo, a palavra bem escrita
Ávida e expressa urgência de quem amou
O reflexo, indagar o peito e a boca inchada.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sobre Flores e Tragédias

Há quem viva suas lendas
Não se contente em virar pó
E pra que tu não te ofendas
Ou pense em morrer só
Hei de ser breve, sem errar o tom
Negar-te a chance em sentir dó
Aos ciclos me foge a realidade
Desse jardim já conheço as flores
O compasso de uma canção
Tempo máximo da felicidade
Ao singular converter amores
E o resto é fantasia,
Material de minha prosa
É a vida sob controle
A tragédia mostrando sua cor
À janela violetas são azuis
De perto amarela é a rosa.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Conto

Na casa do poeta
Onde esconde-se a poeira
Frágil é o físico, fútil
Eterno é o invisível
Onde em livros e mãos
Traz ele a história
Ou estórias
E na mente sabores
E por isso é poeta
De sê-lo deixaria ao trazer
Na mente histórias
E nas mãos os amores

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Lábios

Minhas ásperas mãos não merecem
O macio do toque da pele tua
Penso te ouvir sussurrar que esperem

Minha dor são teus olhos em pranto
Avelãs inquietas no rosto
E tropeço e caio e para tê-las levanto

Meu desafino acerta o tom
Nas cordas de teus vocais
Delatam ser este meu dom
Declarar-me errando notas musicais

Lábios rachados se hidratam
Abrem-se, em teu sorriso refletem
Os teus tocam, morrem, revivem
Cantam o amor em canção
A dor sofrida em poema
Buscam teu pensamento saber
E se assustam, se calam
Tentam não crer
Os teus também os amam

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ensolarada

Não sei se por prazer ou por preguiça
Quem sabe o prazer em ter preguiça
E para tal uma desculpa
Ando sobre dedos na madrugada brumosa

Não lhe desperto o sono profundo
Permito-lhe o sorriso inconsciente
De um sonho gostoso e vadio
Onde aos anjos peço estar presente

Doem-me os olhos ao ver-te sobre a cama
A pele confundindo-se à roupa alva
Todo dia é de sol, toda noite estrelada
É a beleza em estado físico
Tua silhueta em sutil manhã dourada

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Suficiente

Ela é ela, e nada mais
E só, e tanto
E por isso é ela
E por isso a amo
Ainda que não fosse a mais meiga
Ainda que não fosse a mais bela
É rosa, branca e amarela
Cria em cada gesto uma cor
Traz no rosto sempre um sorriso
Na alma e cabelo sempre uma flor

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Camuflada

Entre as mãos o coração
Entre nós a razão
Pela qual você não entende
Camufla o que é latente
Esconde o que é paixão

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Então Você Veio e me Beijou

Eu ia correndo, querendo, sedento
Sem rota, rumo ao nada, cansado da estrada
Maldizendo na alma o sol que raiou
Então você veio e me beijou

Eu vi o diabo viçoso, todo moço,
Chamando bem alto no fundo do poço
Cantando afinado:
_ O inferno lhe dou
E você veio e me beijou

Seguia só caminhando entre as gentes
Tantos e mais belos sorrisos contentes
O lábio fechado, rachado
Ainda grato ao que o vento deixou
E você veio e me beijou

O dia me pegou em meio à rua
Mão suada, texto pronto e alma nua
A madrugada fizera sua parte, a lua partiu
Antevendo o momento, uma porta se abriu
Então você veio e me sorriu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cena

Buscava a morte e encontrei a vida
Temia a sorte fazer-me feliz em demasia
Amava e nem sabia, pedia
Um segundo, um instante de realidade
Um lapso de fantasia

A infância pede atenção à cena
Ao longe a vida há de lhe dar o choque
A tormenta perfeita lhe soa amena
O amor quando vem, você sabe

A diferença busca luz a esmo
De-javu ver-se em todo refletido
Ame tudo o que trago escondido
Pois é o que de melhor há em mim
É o que em mim há de ti mesma

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A Mais Bela

Por mais bela
Que pareça ou seja
Nada a faz mais que estas
Que por ti escrevo
Desenho-te em pura maneira
Moldo teu corpo
Em sombra e poesia
Escorrida em prosa e verso
Contida no último momento
Entalada na garganta
O limiar da língua
Censura o pensamento

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

À Deriva

Em busca de palavras para desenhar poesia
Em busca de versos para se expressar
Quer o mago o controle da magia
Que tem o poeta quando se põe a cantar

Quando se vê em meio ao mundo atordoado
E ninguém pára a pensar em solução
Da mente faz-se um barco ancorado
Alto mar violento ouvindo só o coração

Ondas disformes e fortes o tornam sem rumo
Fazem-no perder na escuridão
Teu olho é um farol verde e distante
Deixa não mais apenas a mente sem direção

Até então fora seu navio um forte
E sua bandeira todo seu suprimento
Seu castigado casco agora acusa o corte
Sobrevive, melancólica, a bandeira ao tormento

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Alheio

Correm pessoas, apressadas
Contando vida em notas
Sujas, páginas rotas
O mundo girando, em contínuo
E no meio , fica meu lápis
Que de minutos faz horas
Leva-me vidas adiante
Dá-me reinos, castelos, princesas
As descobre, desvenda
Se decepciona, ou se alegra
Conta o amor e a dor
Contagia
Em corações faz folia
Incita-lhes a pensar, a amar
Ao mesmo tempo sorrir e chorar
A rainha que meus lápis desenha
Nem o tempo foi capaz de apagar

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Alento

Esta noite lhe trago sua colcha
Num sem cor branco, feitio em crochê
Em vulto feito o entrar do bandido
Desejo apenas ver-lhe aquecer
Provocar-lhe corpo, a libido

Esta noite lhe trago sua colcha
Macio manto sobre seu corpo
Pra que ela lhe permita o sonho
Profundo e despreocupado
O sono vadio e pesado

Esta noite lhe trago sua colcha
Meu corpo sobre o seu
E que lhe cubra o ouvido com palavras
Que lhe aperte as mãos com as minhas
E molhe os lábios com os meus
E que lhe acalante meu calor
Meu amor

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

1º de Dezembro

Então anjos à Terra olharam
E bradaram em uníssono amém
Iluminando o caminho
Entre floresta e firmamento
Que ainda hei de conhecer
Estrelas
Ao redor cirandaram
Por instantes
Demônios que a ti cobiçavam
Espantaram
Mãos outrora se explicavam
Gesticulavam
Desenhos a esmo no ar
Se enterneciam
Tateavam do amor
A face
Lábios outrora se abriam
Buscavam a palavra correta
Em vão
Agora se calavam
Beijavam a própria beleza
Pura e incerta
O que em momentos fora encontrado
Vida inteira de outro errante
A felicidade bruta
Eterna em um instante
Intensa e fulgáz
Medida em sorrisos
Trazida a tona a olhos vistos
Espremida entre pressa
E ansiedade do viver
Chama viva
Esperança
Certeza de saber
Alguém há por você
Alguém há de lhe encher o peito
Pois quem duvida do destino
Quer fazer seu próprio caminho
O fará
Da exata forma
Que o destino o quer feito

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cancha Reta

Agarro as rédeas da vida
Deixo-lhe as marcas da espora
Sigo cego na cancha reta
Sou risco e rastro na terra batida

Conhecem-me o vento e a poeira
Sob a aba me secam a lágrima
Sob a pele, do sol, o valor
Sob a alma, da chuva, o calor

Uma vida a cada jarda corrida
Um segundo e já não sei quem era
Fui eu, assim, quem sabe até você
Talvez quem hoje você venera

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Verdade

Verdades são escritas em verso
Impressas em corações partidos
Ocultas em sonhos não revelados
Em pensamentos não ditos
Expressas em beijos roubados

Verdades são ditas em silêncio
No constrangimento de um olhar
Fulguram no rubor de um rosto
Quase ultraje sorriso em ti posto
Segue sereno meu barco
Rumo ao fundo do mar

Verdades adormecem em sussurros
De braços envoltos em vaidade
O curto manto a todos encobre
Certo é a vida sem ti mais pobre
Verdade por fim é saudade

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Amarelo

O sol amanhece o pensamento
Coldplay ecoa até onde a cama alcança
Celebra-se a vida em um momento
E tudo é amarelo
E o tempo finalmente descansa
Van Gogh inundando corpos
Complementando o cenário
Trabalho longo, desenho já sabido
Pincelado a esmo em anos tortos
Andando em círculos, renegando lábios
Ancorando na tranqüilidade de outros portos
Ousada teimosia, voltar ao princípio
Desafiar o destino e não se saber vencido.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

I wonder

Se todos tivessem de explicar a origem dos recursos para compra e/ou construção de bens imóveis, haveria muitos dirigentes e ex dirigentes de clubes de futebol dando trabalho a seus advogados!!!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Tanto

Amor
Pra que tanto?
Em pranto
Canto
Nem sei se santo
O manto
Sagrado da saudade
Em desencanto
Até quando?
Para sempre infanto
Por que o espanto?
Sou eu, e no entanto
Sou seu enquanto
Sonhar
Ou durar o encanto.