terça-feira, 30 de setembro de 2008

Kika

Nunca pedi licença
Pra vida ou qualquer vivente
E há quem diga que não sente
A língua travando no dente
O tamanho de minha presença

Não insista, me veja, sou moda
Tendências me seguem por rotina
O sucesso há tempos me procura
Sabe ele ser minha sina
Sabe ele sou foda

Seu tempo eu conheço
Não peço desculpas pela demora
Do crescer já sei o custo
Já pago seu preço
Posso ser eu mesma a qualquer hora

Meu jeito, sem saber me entrega em cheio
Realmente pinto e bordo às torrentes
Não pareço familiar
Já me viste por sobre as gentes
Era eu a capa e recheio

Não me espere ver em pranto
Meu sorriso exige merecimento
Por caráter, maciez ou momento
E saiba antes do julgamento
Aos que dizem não ser social
Apenas nego o direito ao encanto

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

À Nuca

Coloridas são as asas
Da borboleta que a veste
De livre espírito, verde
Azul , a alma e o olho
Que de desejo a despe

A grande força às mãos
O homem forte aos pés
A grande força, a paixão
A forte menina, virgem mulher
Delicado furacão

Em sombras e luz, negro em pêlo
Branco em alma, vida e patas
Língua e lábio beijando matizes
Se a beleza se esconde sob o cabelo
A sabedoria se disfarça no peito
Sob a forma de cicatrizes

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sobre Mim

E eu que nunca soube
Nem ao menos quem eu era
Ou tampouco quem seria
Quem gostaria de ser
Se Chico Buarque de Holanda
Ou Carlos Nader

De você sei mais do que imagina
Sei mais do que mim mesmo
Mais do que deveria saber
E, ainda que fosse a esmo
Seria a vida mais pobre
Se a mesma, de porre
Me pregasse o truque
De nunca lhe conhecer

Em poucas coisas faço credo
Embora de nada duvide
Creio que não sei quem seja
Ao que disso você já saiba
Grato sou por ser eu, e eu só
E, assim, não ser você
E, por isso, com você poder estar
Como o pescador, que não sabe porque pesca
Apenas agradece por sê-lo
Para poder acordar todo dia
Nos braços do mar

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Soneto Direito

Com as mãos moldo teus lábios
Para poder desenhá-los no ar
Teu rosto trago escondido sob os olhos
Fecho-os para então te beijar

Duas faces tem a moça ao luar
E penas um sorriso que as una
A que me olha se põe à pensar
A que me beija se entrega à fortuna

Dos riscos que corro exijo, sei eu
Da felicidade sabem melhor a vida e o tempo
Da tristeza só digo o que sabe meu peito

A alegria, insisto, explicito em todo feito
Denuncia teimoso o rosto meu contento
Dentre todos os riscos, maior seria ser seu

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sorrir de Olhos

E de todos os que a amaram
O mais simples e claro veio ser
O que mais complexo há de se ver
As costas deu à fantasia
Ao mundo de imaginação
Camuflou ilusão em realidade
Apenas 5 minutos diz a canção
Que a teimosia tratou de tornar verdade

E de todos que a traíram
O fio de navalha em mão carinhosa
Foi o que mais fundo a tocou
No mundo de trevas da mentira
Vislumbrou ela o jardim que quis
Ao brilhar do sol podres flores brotaram
Por castigo tal perfume ela provou

E de todos que a sorriram
Aquele para o qual ela guardou
O som de sua risada
Fora àquele que não sabia sorrir

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Cê Sabe

Tenho mãos acariciadas por cabelos
Que deslizam a moldar um rosto
E uma boca que ávida me olha
Mais do que os olhos poderiam
Faz-me escravo destes lábios, deste gosto

A paixão reapresentada à vida num sorriso
Talvez teimosa vença, finalmente aprenda
Jamais hei de esquecer
Do assalto seco, tinto, do beijo
Da ironia transformar angústia em prenda

Sabe a madrugada aguardar ansiosa
O ensolarado dia que há por vir
E sabe ele seu tempo, seu lugar
Sua alva maciez em pele
Quase possível tocar sua luz
Fazer dela meu caminho
Fazer dela meu andar

Subo às torres do castelo
Imploro à princesa que me salve
Pois há muito já perdi defesas
Impávida me atire ao banho
Me banhe em mãos e sutilezas

Canto o prazer em tons maiores
No jazz suave, omitido em bruma
Nas palavras entre dentes sufocadas
Largadas ao vento, leves feito plumas
Aliviando enfim almas antes acossadas

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O I e o U

Escondo-me em vogais
A ti pareço dissonante
Não que não saiba ou queira
Gentileza entre lábios se esgueira
Faço reto meu caminho inconstante

Fruta silvestre da savana
Que a madrugada fez desnuda
Fruta madura, viajada no mundo
De gosto, riso e olhar profundo
Áurea clara meu desejo profana

Impulsiva a vontade sei, não será controlada
A hora é agora e o momento já passou
De que tratava afinal a frase mal dita

Em tortas linhas, certo, a palavra bem escrita
Ávida e expressa urgência de quem amou
O reflexo, indagar o peito e a boca inchada.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sobre Flores e Tragédias

Há quem viva suas lendas
Não se contente em virar pó
E pra que tu não te ofendas
Ou pense em morrer só
Hei de ser breve, sem errar o tom
Negar-te a chance em sentir dó
Aos ciclos me foge a realidade
Desse jardim já conheço as flores
O compasso de uma canção
Tempo máximo da felicidade
Ao singular converter amores
E o resto é fantasia,
Material de minha prosa
É a vida sob controle
A tragédia mostrando sua cor
À janela violetas são azuis
De perto amarela é a rosa.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Conto

Na casa do poeta
Onde esconde-se a poeira
Frágil é o físico, fútil
Eterno é o invisível
Onde em livros e mãos
Traz ele a história
Ou estórias
E na mente sabores
E por isso é poeta
De sê-lo deixaria ao trazer
Na mente histórias
E nas mãos os amores

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Lábios

Minhas ásperas mãos não merecem
O macio do toque da pele tua
Penso te ouvir sussurrar que esperem

Minha dor são teus olhos em pranto
Avelãs inquietas no rosto
E tropeço e caio e para tê-las levanto

Meu desafino acerta o tom
Nas cordas de teus vocais
Delatam ser este meu dom
Declarar-me errando notas musicais

Lábios rachados se hidratam
Abrem-se, em teu sorriso refletem
Os teus tocam, morrem, revivem
Cantam o amor em canção
A dor sofrida em poema
Buscam teu pensamento saber
E se assustam, se calam
Tentam não crer
Os teus também os amam

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ensolarada

Não sei se por prazer ou por preguiça
Quem sabe o prazer em ter preguiça
E para tal uma desculpa
Ando sobre dedos na madrugada brumosa

Não lhe desperto o sono profundo
Permito-lhe o sorriso inconsciente
De um sonho gostoso e vadio
Onde aos anjos peço estar presente

Doem-me os olhos ao ver-te sobre a cama
A pele confundindo-se à roupa alva
Todo dia é de sol, toda noite estrelada
É a beleza em estado físico
Tua silhueta em sutil manhã dourada

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Suficiente

Ela é ela, e nada mais
E só, e tanto
E por isso é ela
E por isso a amo
Ainda que não fosse a mais meiga
Ainda que não fosse a mais bela
É rosa, branca e amarela
Cria em cada gesto uma cor
Traz no rosto sempre um sorriso
Na alma e cabelo sempre uma flor

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Camuflada

Entre as mãos o coração
Entre nós a razão
Pela qual você não entende
Camufla o que é latente
Esconde o que é paixão

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Então Você Veio e me Beijou

Eu ia correndo, querendo, sedento
Sem rota, rumo ao nada, cansado da estrada
Maldizendo na alma o sol que raiou
Então você veio e me beijou

Eu vi o diabo viçoso, todo moço,
Chamando bem alto no fundo do poço
Cantando afinado:
_ O inferno lhe dou
E você veio e me beijou

Seguia só caminhando entre as gentes
Tantos e mais belos sorrisos contentes
O lábio fechado, rachado
Ainda grato ao que o vento deixou
E você veio e me beijou

O dia me pegou em meio à rua
Mão suada, texto pronto e alma nua
A madrugada fizera sua parte, a lua partiu
Antevendo o momento, uma porta se abriu
Então você veio e me sorriu.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cena

Buscava a morte e encontrei a vida
Temia a sorte fazer-me feliz em demasia
Amava e nem sabia, pedia
Um segundo, um instante de realidade
Um lapso de fantasia

A infância pede atenção à cena
Ao longe a vida há de lhe dar o choque
A tormenta perfeita lhe soa amena
O amor quando vem, você sabe

A diferença busca luz a esmo
De-javu ver-se em todo refletido
Ame tudo o que trago escondido
Pois é o que de melhor há em mim
É o que em mim há de ti mesma

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A Mais Bela

Por mais bela
Que pareça ou seja
Nada a faz mais que estas
Que por ti escrevo
Desenho-te em pura maneira
Moldo teu corpo
Em sombra e poesia
Escorrida em prosa e verso
Contida no último momento
Entalada na garganta
O limiar da língua
Censura o pensamento

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

À Deriva

Em busca de palavras para desenhar poesia
Em busca de versos para se expressar
Quer o mago o controle da magia
Que tem o poeta quando se põe a cantar

Quando se vê em meio ao mundo atordoado
E ninguém pára a pensar em solução
Da mente faz-se um barco ancorado
Alto mar violento ouvindo só o coração

Ondas disformes e fortes o tornam sem rumo
Fazem-no perder na escuridão
Teu olho é um farol verde e distante
Deixa não mais apenas a mente sem direção

Até então fora seu navio um forte
E sua bandeira todo seu suprimento
Seu castigado casco agora acusa o corte
Sobrevive, melancólica, a bandeira ao tormento