terça-feira, 27 de outubro de 2009

Com Sciência

Até que um dia,
Por sorte, desdém ou teimosia
Seus demônios lhe aprendem o respeito

Não lhe assusta mais a carência
Já se permite viver calado
É quase bom viver sozinho
E até dormir acompanhado

Despedem-se da vida medidas
Melhor pecar por excesso
De risos, beijos, agruras
De amor e dor em demasia
De torrentes de paixão descabidas

Caem as máscaras da festa
O salão, de damas e dons
Grandes cavalheiros
Seus cheiros, gestos e sons
Quixote a lhes adornar a testa

Já se sabe o que se fora
E agora o faz com sciência
Não se luta mais contra maré
Sabe-se vã insistência
Não ser mais
Aquilo que se é

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O Dia do Coringa

Beleza de poeta alucinado
Desconstruindo a ética
antiquada e kitch
Um dia de Coringa desvairado
Quem diria, por um instante
Um palhaço brindando Nietschze
Um engenheiro niilista
Arquiteto da anarquia
Anunciando a morte
Por sorte
Ou covardia
Mantém-a sempre à vista
O inferno arde ao lado
O Diabo às gargalhadas
Seu arcanjo maldito
O diverte em palhaçadas
Filho dedicado
Do ventre de mãe gentil
Soldado da desordem
Do sorriso permanente
Beirando o infantil
Ao ver o mundo em colapso
Meros fogos de artifício
De seu legado senil

sábado, 27 de junho de 2009

Poema Redenção

Me abandona a fantasia
A realidade me inunda
Meu faz já perdeu a conta
Zomba
Da carência de poesia
Das torrentes de desejo
Em quentes ondas terrenas
Para as quais dispenso ensejo
Já não apenas quero
Preciso...
Urgente, ardil
Saber
Onde o poema encontra a verdade
Quando o corpo padece febril
O sangue me sente a vida
A alma faz verão em abril
Na ilusão viver em realidade
Do plano real me basta um segundo
Cabe nele meu conto de fadas
Passeio ali minha volta ao mundo

terça-feira, 16 de junho de 2009

La Cancion de Los Buenos Borrachos, de Joaquin Sabina e Fito Paez

Cuatro gotas
de alquitrán en la voz,
siete notas empapadas de alcohol
campanadas
en el fondo del mar,
carcajadas
que me hicieron llorar...
Con un loro
que blasfema en latín,
le hacen corolos "sultanes del swing"
y una big band
con un trombón y bombin
de Nueva Orleans
en mi funeral.
Y ese tango
compadrito del sury
un fandango
de gitano andaluzy
un piano
con dos copas de más,
y unas manos
que lo sepan tocar.
Oraciones
para gente sin fe,
tentaciones
de volver a beber
el veneno
que tus labios me dan,
el obsceno
beso de la verdad.
La balada
de la casada infiel,
demasiadas
cosas por aprender,
el portero
de la Puerta del Sol,
el cartero
de tus cartas de amor,
el primero
en sacarte a bailar
un vals.
El vals
de la tristeza más triste del mundo,
la belleza que dilapidé,
la pereza de los vagabundos,
el rompecabezas que no terminé.
La palabra secreta, la mano
que planta violetas en el hormigón,
la maldita canción del verano,
la casa de citas de mi corazón.
Y el milagro del abecedario,
la tortuga que rompe a volar,
la ternura de los dinosaurios,
el aniversario de la soledad.
La liturgia de las despedidas
la bala perdida que viene por mí,
la nostalgia que amarga la huida,
la banda sonora de lo que viví.
La canción de los buenos borrachos
que, de madrugada,vuelven al hogar,
la canción que atropella los tachos
llenos de basura de la Capital.
La canción que se canta al oido,
la canción que no quieres oir,
la cantamos los malos maridos
cuando, en el olvido, pensamos en ti.
La canción de los buenos borrachos,
que, de madrugada vuelven al hogar,
la canción que atropella los tachos
llenos de basura de la Capital.
La canción que se canta al oido
la canción que no supe escribir,
la cantamos los malos maridos
cuando, en el olvido, pensamos en ti.

terça-feira, 24 de março de 2009

Torto

Me interessam as pessoas
Tortas
Os homens rotos
De dentes podres
Olhares escrotos
Desgrenhados
Gênios marotos
A história em vincos
As memórias nos rostos
As caras banidas
Dos mundos regrados
Por dias bem vividos
E noites mal dormidas

As putas
Marias sin rutas
Princesas dos becos
Rainhas dos puteiros
De ancas opulentas
Mamas tenras
Coxas suculentas
Gestos matreiros
Para bolsos generosos
E distintos cavalheiros

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Onze

Os pés pisam o tapete, puro
Descalços,
Desconhece, a grama, chuteira
Ali onde tantos já rezaram
Impõem-se no campo à beira
Impávidos em vulto obscuro
Os fantasmas daqueles que ali jogaram

O tempo se perde na imensidão
Afoga-se num mar de lágrimas
São milhares, sua história e mérito
Trazendo a esperança pela mão
Esvai-se a angústia e suas rimas
São onze, cada um e seu exército

É um jogo ou uma batalha
Por uma taça, uma vida,
Ou qualquer coisa que o valha
É você em campo, peito franco
Beijando a bola, caprichosa, bandida
A alma vestida em preto, azul e branco

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Gentileza

Não é gentileza, é verdade
E me perdoe se falo sem pensar
É espontâneo, inevitável
Como o amanhecer e o luar
Como as marés e as ondas do mar

Não me pergunte o que acoberto
Ou porque deixo de esconder
Em vã tentativa, pânico discreto
Na angústia camuflar o óbvio
Verso a verso, aos poucos dizer
Sem receio de saber o que se quer

Do desejo conheço a cor
E todo seu tom e matiz
O tempo traz temperos
Agrega sabor
Alegria a gosto
Felicidade em broto e raiz
Cavoucar fundo na alma
Onde a boca pede calma
E elogio não é favor

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Vendaval

É vendaval, não é brisa
Vento frio não sopra
É mais forte do que parece
E cresce
Levanta, poeira e moral
Onde o riso, fraco padece
Onde o mar não tem sal
Onde o fogo por vezes se aquece
A árvore acena e agradece
À areia a coreografia final

A torre balança gritando princesa
E a pluma desvairada dança
Se permite exibir, insiste ser criança
Ao sol é alento, é luz de luar
É poder ver sem enxergar
É vendaval, não é brisa
Feche os olhos e se deixe levar

Lentidão

Sempre fui um leitor lento
O tempo me morde à escolha da obra
E deste, do pouco que me sobra
Faço votos e reverência ao talento

Levo anos a dobrar da vida, capítulo
A esquecer algo, alguém
E você, é quem?
Foste meu ou de outro bem?
Um desfecho e lhe prometo título

Deste final já sei o começo
E faço da teimosia meu vício
Não peço
Meu ápice eu mesmo teço
Eterno retorno incosciente
Estar voltando ao seu início.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Simples

É simples, porém complexo
Caçar solidão em meio às gentes
E, ainda que houvesse nexo
Fazer do amor o sexo
Seríamos deveras contentes
Tendo o gozo em momentos
E o amor em torrentes

É simples, e é verdade
Assim se é, e nada além
A mesma rua, a mesma casa
Outra cidade
Amores e pessoas, vão e vem
Assim sou eu, a própria liberdade
Assim me quero, sou eu meu próprio bem

Complexo, me parece
O mundo sofrendo em miopia
Ironia
Quiçá ser grande benesse
Enquanto longa visão carece
Ver-me perto
Por completo em revelia

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Sem Paciência

Quando foi que perdemos a paciência?
Era tudo de que se dispunha?
Em que curva, data ou estação?
Seria um sintoma, um mundo em demência
Ou simples lapso de paixão?

Do tempo nosso, perdemos a posse
Viu-se pueril entre dedos
Aos ares em vento, sem mesura
Foi-se sem chance ou censura
Procurar noutros os mesmos enredos

A felicidade nos anseia e devora
O pote de ou(t)ro ao fim do arco
Por que fazemos da tristeza o marco?
A busca é infinita
A recomeçamos em março,
ou com a nova aurora?

Queremos sem pedir ou precisar
Avião novo sem olhar pro céu
Pisamos a lua sem ver o mar
E se queremos novidade
Há sempre um jeito moderno
De vestir o mesmo chapéu.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guri, de César Passarinho

Das roupas velhas do pai,
queria que a mãe fizesse
uma mala de garupa,
uma bombacha e me desse.

Queria boinas, alpargatas,
e um cachorro companheiro
para me ajudar a botá as vacas
no meu petiço sogueiro.

Ei de ter uma tabuada,
e o meu livro queres ler,
vou aprender a fazer contas,
e algum bilhete escrever

prá que a filha de seu Bento saiba,
que ela é meu bem querer.
E se não for por escrito,
eu não me animo a dizer.

Quero gaita de 8-baixo,
prá ver o ronco que sai;
botas, feitio do Alegrete,
esporas são do Ibiracaí

lenço vermelho e guaiacas,
compradas lá no Uruguai.
É prá que digam quando eu passe,
saiu igualzito ao pai.

E se Deus não achar muito,
tanta coisa que eu pedi,
não deixe que eu me separe,
deste rancho onde nasci.

Nem me desperte tão cedo,
desde sonho de guri,
e de lambuja permita,
que eu nunca saia daqui.