domingo, 4 de janeiro de 2009

Guri, de César Passarinho

Das roupas velhas do pai,
queria que a mãe fizesse
uma mala de garupa,
uma bombacha e me desse.

Queria boinas, alpargatas,
e um cachorro companheiro
para me ajudar a botá as vacas
no meu petiço sogueiro.

Ei de ter uma tabuada,
e o meu livro queres ler,
vou aprender a fazer contas,
e algum bilhete escrever

prá que a filha de seu Bento saiba,
que ela é meu bem querer.
E se não for por escrito,
eu não me animo a dizer.

Quero gaita de 8-baixo,
prá ver o ronco que sai;
botas, feitio do Alegrete,
esporas são do Ibiracaí

lenço vermelho e guaiacas,
compradas lá no Uruguai.
É prá que digam quando eu passe,
saiu igualzito ao pai.

E se Deus não achar muito,
tanta coisa que eu pedi,
não deixe que eu me separe,
deste rancho onde nasci.

Nem me desperte tão cedo,
desde sonho de guri,
e de lambuja permita,
que eu nunca saia daqui.

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